A Pedagogia como Ciência Experimental

Ao pensarmos que o mundo, cultural e natural, compõe a construção do ser humano e que,
para o seu desenvolvimento, ele necessita de outros seres, podemos entender que é nessa
troca pela diferença e diversidade que se configura a autonomia da própria humanização.

Pensando assim, reforço a urgência do deslocamento da escola do pensamento iluminista
de progresso, que promete um futuro melhor e o acesso a um novo conjunto de bens, sem
reflexão crítica e consciência humana, reorganizando-a, de maneira social, em um lugar
explicitamente dedicado às questões que dão sentido à vida — das pessoas e de todo o
planeta.

Seguindo o movimento desse deslocamento, é importante entendermos que educar é um
processo! E esse processo deve ser compreendido como um conjunto complexo de ações,
pesquisas, conceitos e valores. E, diante dessa complexidade, é urgente compreender a
pedagogia como uma ciência que compartilha, com as modernas ciências experimentais,
uma abordagem prática e investigativa. Embora seu campo de estudo seja o
desenvolvimento humano, com diferentes abordagens entre infância e adolescência, sua
metodologia se assemelha ao rigor das ciências que buscam, por meio da experimentação
e observação, aperfeiçoar práticas e conhecimentos.

Assim como as ciências naturais desenvolvem suas teorias a partir de experimentos e
evidências, a pedagogia se estrutura por meio de práticas “vivas” no dia a dia, seja nas
brincadeiras, nas salas de aula ou nas diversas interações que o ambiente escolar propicia
entre o ser que propõe a experiência e o ser que vive a experiência.

Essa visão da pedagogia como ciência experimental considera a educação não apenas
como um processo de transmissão de conhecimento, mas como um processo constante de
“esperançosa busca”, como afirma Paulo Freire. Os educadores, assim como os cientistas,
são investigadores que, com base na observação, reflexão e ajustes contínuos, trabalham
para criar ambientes de aprendizagem que respondam às necessidades e potencialidades
de crianças e jovens.

Nessa perspectiva, a pedagogia não pode se limitar a seguir modelos pré-estabelecidos. Ao
contrário, ela deve ser fluida, adaptativa e aberta a novas descobertas. Isso implica uma
prática educacional que valoriza a experiência e a experimentação, que está em constante
diálogo com a realidade vivida pelos estudantes e que se reinventa à medida que surgem
novas ideias e desafios.

Considerar a pedagogia como uma ciência experimental é reconhecer a importância de uma
abordagem educativa que seja simultaneamente metodológica e inovadora. É compreender
que a educação é um campo onde a experiência prática é tão vital quanto o conhecimento
teórico.

A pedagogia, como ciência experimental, não se limita a laboratórios ou equações. Ela
nasce da vida vivida, das observações do cotidiano, das experiências que traduzem ou
reinventam o mundo.

Eu, que frequento escolas desde os 4 anos de idade, acredito, com um brilho nos olhos e
inquietação constante na alma, que essa capacidade de observar e questionar é algo que
devemos insistir continuamente.

Não estou aqui para afirmar que a pedagogia é a mais importante das práticas. Meu
verdadeiro propósito com este texto é promover a reflexão — a capacidade de cada um de
nós propor novos movimentos para a educação.

Libertar a pedagogia dos métodos tradicionais de ensino é permitir que as pessoas se
movam entre ideias, que sintam e pensem por si mesmas. Como Tim Ingold disse: “estar
vivo é estar em movimento”
. E esse movimento inclui o pensar, o sentir, o questionar.

A pedagogia existe para validar o que as crianças pensam, questionam e descobrem, assim
como para fortalecer os jovens em suas ações, descobertas e propósitos, para que ambos
possam viver plenamente o direito à liberdade de serem quem são.

Finalizo este texto-reflexão com algumas perguntas investigativas para que possamos,
coletivamente, buscar e construir ações e princípios para guiar as escolas diante dos
desafios contemporâneos. São perguntas para construir a Escola que acreditamos:

● O que deseja essa escola?
● Quais valores regem essa escola?
● Essa escola é inclusiva?
● Que concepção de mundo e sociedade essa escola valoriza?
● Como são estruturadas as relações entre as pessoas nessa escola?
● Como essa escola se relaciona com o entorno?

Renata Stort
Pedagoga, Filósofa e Cientista Social. Pesquisa a Antropologia dos Sentidos.

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